
A Direita precisa ler
Estive lendo uma história que fazia tempo queria conhecê-la por completo. Era algo que tinha acompanhado nos desenhos animados, filmes e algumas séries, mas, apesar da mesma ter sido originada em um livro, nunca havia a lido. Trata-se da vida de um jovem rapaz que perdeu sua mãe e pai muito cedo. Foi adotado, bem-criado pela mãe adotiva e pai também, este o passou todas as habilidades e caráter necessário para sobreviver naquele mundo tão hostil naqueles tempos.
Como antes, o destino fez com que ele também perdesse a mãe e o pai adotivo em circunstâncias bastante violentas. Isso o fez querer vingança, ainda mais quando soube no leito de morte do pai adotivo que, não somente os pais de sangue lhe foram tirados, mas também suas posses e títulos, ele próprio era um nobre saxão e tinha agora como inimigo o mesmo algoz de seus pais adotivos, o mesmo que também ceifara a vida de seus genitores, o conde de Notingham.
Sim, falo de Robin Hood. E você deve estar se perguntando agora: o que isso tem a ver com a thumb A DIREITA PRECISA LER? É bem simples.
Faço primeiro uma pergunta: Qual a visão que você tem de Robin Hood? Deixa-me ver se adivinho… que ele é um herói, pois retira dos ricos e dá aos pobres. Que faz justiça, pois retira os lucros do rei que cobra imposto das pessoas, que era um grande homem e que tinha o amor de todas as donzelas da região?
Bom, se você estiver falando da versão imposta a nós pelos filmes e desenhos da Disney, sim, essa é realmente a versão apresentada de Robin Hood, mas, por acaso você se deu ao trabalho de ler a obra original escrita por Alexandre Duma e outros dois escritores? Sim, o livro foi escrito por dois ghostwriters – algo que já existia naqueles tempos – Duma era conhecido por usar escritores auxiliares na construção de suas histórias. E mais, sabia que Alexandre Duma era um escritor que tinha suas raízes políticas mais voltadas à esquerda, pois ele escreveu o romance Robin Hood em 1830, 40 anos após a Revolução Francesa. Mas isto é algo para outro vídeo.
Sobre o verdadeiro Robin Hood, este não só retirava dos ricos, mas também dos pobres, mesmo que com muita cortesia. Quem passasse pela floresta de Sherwood tinha que pagar um pedágio ao bando do maior protetor da floresta. Caso fosse pobre, pagava, pouco, mas pagava. Se fosse rico, pagava mais caro. A floresta era deles, eles criavam as leis e diziam quem podia ou não viver ou andar por ali. Andavam sempre armados e controlavam o que entrava e saia de mercadoria da floresta. Alguma semelhança com algum lugar aqui do Brasil que você conheça?
Sobre se retirar do rei, isso sim era verdade, talvez a única parte que admiro em Robin hoje em dia. Quanto a mulheres, ele seria cancelado ou no mínimo pegaria uma cadeia por assédio hoje em dia, pois roubava beijos de toda e qualquer mulher que via pela frente, eram os costumes da época. Só não se ela fosse uma bela nobre, aí tinha que respeitar, mas, se fosse plebeia, caia nas garras do arqueiro.
No livro, a prática utilizada por Robin e seu bando é ovacionada e aplaudida pelo povo. O rei é sempre o opressor e a saída para uma melhora é se aliar ao bando de Robin para ter um mínimo de proteção.
E assim fomos criados com essas histórias de Robin Hood. Talvez por isso e outras histórias mais, nós brasileiros temos em nosso inconsciente coletivo que, na verdade, o bandido está certo por fazer o que faz, pois ele sempre foi oprimido, algo lhe foi retirado. Ele é um de nós, só que ao contrário, resolveu fazer algo para mudar sua história.
Eu poderia ficar aqui por horas citando livros e autores que escreveram histórias semelhantes a estas e todas elas teriam a mesma retórica, ambas advindas no pós-revolução Francesa, e todas de escritores de esquerda. Muito poucas delas foram escritas por autores de direita. Talvez por isso, não vejamos graça naquele herói certinho que tenta fazer o correto, sempre precisa ser aquele que é rebelde e que pratica alguma contravenção.
Vejam os filmes, por exemplo… o policial sempre é um corrupto e o bandido é o oprimido que justifica sua opressão roubando de algum figurão milionário. Sempre é culpa de alguém rico que tirou algo de você.
Mas, se você está dizendo que quase todos os autores são de esquerda e que a direita não lê, a ideia é que devemos ler autores de esquerda, pois não temos de direita? Sim, isso mesmo, porque o que ocorre é que a direita não lê, pega apenas os resumos por meio de filmes, desenhos e séries destes livros. Já que ainda não temos uma boa gama de escritores de direita, temos que pelo menos começar a entender melhor o que os livros que a esquerda escreve querem realmente passar. Assim, você poderá formar sua crítica de um jeito fundamentado para o debate ou mesmo para se afastar de tal conteúdo.
E o pior é que isso é tão bem empregado que não consigo não gostar de Robin Hood. Eu leio o livro e torço por ele o tempo todo. Veja como eles são eficientes no que pregam. Entenda as novelas, as antigas, pois, felizmente boa parte quase não as assiste mais. Os conceitos trabalhados ali eram sempre para destruir a família que fosse conservadora. O pai ou marido conservador, sempre era traído ou traia a mulher. A amante sempre era ética, enquanto a esposa traída era uma megera cheia de defeitos.
Os intelectuais eram sempre de esquerda enquanto os turrões eram de direita, neste quesito tenho que concordar em boa parte, caso contrário não estaria fazendo este artigo. Fato é, a direita precisa ler. Veja, onde estão os maiores nichos onde a esquerda tem sua base? Cultura, arte, música, universidades públicas, centros acadêmicos, editoras, jornais e toda base que diz respeito ao controle da informação. Com apenas um adendo: mídias sociais.
Este é o único campo que a esquerda ainda não conseguiu dominar. E isso poderia ser um início para a direita, porém, vejo que não basta ter um grande palco se o que é apresentado não tem conteúdo. Temos ótimos exemplos como a Brasil paralelo e algumas emissoras de TV, mas, em se tratando de cultura, música e literatura, ainda estamos engatinhando.
Creio que a literatura seja um campo que devesse ser melhor trabalhado pela direita, pois, por meio de histórias criadas por um bom escritor é possível se criar um mundo ou vários deles na cabeça das pessoas. E isso, sim, pode mudar a percepção de muita gente. O país não se tornará melhor enquanto não mudarmos a ideia de que o “jeitinho brasileiro” é uma qualidade, quando sabemos que na verdade, ele apenas mostra o quanto somos corruptos desde a tenra infância.
Sinceramente, não entendo onde perdemos esse hábito. Lendo os livros do Bruxo do Cosme Velho, percebo que naquela época era normal até mesmo um estivador ser pego com um livro de poesia nas mãos. Era costume as pessoas lerem, bastava aprender a ler que já adquiria o hábito. Sim, poucos tinham esse direito, saber ler e escrever era uma honra dada a poucos, mas, mesmo assim, ouso dizer que esses poucos leem bem mais do que os brasileiros atuais. E hoje, aprender a ler e escrever não é algo tão complicado assim, e no entanto, não vejo ninguém lendo por aí. Aliás, é tido como estranho e até algo que incomoda quando a maioria percebe que, ao invés de um celular, o moribundo está com um livro na mão.
Caso duvide do que estou falando, experimente sair pelas ruas questionando quantos livros o individuo leu na vida. A maioria vai dizer rindo que, nenhum, e os poucos que disserem que leram algo terão o cabelo pintado ou o arquétipo conhecido pelos seguidores de Marx. Isso é uma verdade. Vejo nas manifestações pró direita as entrevistas que são dadas e chega a ser triste ouvir os erros de português básicos que são cometidos.
E não me tenham por uma pessoa preconceituosa, pois, eu mesmo tenho minhas mazelas linguísticas, mas, tenho procurado melhorar. Fato é que, temos ignorantes literários na esquerda também, mas, ainda assim, eles são maioria na livraria, clube de livros, biblioteca e todos os meios onde se é necessário um livro na mão para ser aceito ali.
Por isto, insisto, a direita precisa ler.